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António Coelho falou-nos sobre a Guerra Colonial |
Durante os últimos 13
anos da sua existência, o governo ditatorial viu-se confrontado com as reivindicações
de independência por parte das colónias africanas. Assim, em 1961 iniciou-se um
movimento contestatário organizado pelos grupos
de libertação das antigas províncias ultramarinas de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
O regime do Estado Novo
nunca reconheceu a existência de uma guerra, argumentando que o princípio pelo
qual interveio nessas terras era o da defesa pela extensão do território português,
ou seja, que os movimentos independentistas eram grupos terroristas e que as
suas terras não eram colónias mas províncias, logo, parte integrante de
Portugal. Por sua vez, apoiados
pelas instituições internacionais, como a ONU, os movimentos de libertação africanos
aclamavam pela sua autodeterminação e independência.
É terça-feira, 18 de
Março de 2014, e estamos sentados à espera do Sr. António que não só nos vai
contar a sua experiência como militar, como também explicar o que realmente se
passava naquelas terras tão longínquas.
Nascido em Angola, o Sr.
António veio para Portugal muito cedo, não sentindo directamente os horrores da
guerra. Contudo, lembra-se que os [seus] pais viviam preocupados diariamente pois tinham quatro filhos e o medo para
que fossem chamados para ir para a guerra era constante lá em casa.
E se umas crianças mais espevitadas perguntavam curiosidades ao antigo militar, outras muito atentas, escutavam as suas respostas:
Francisco: Morreram pessoas nessa guerra?
Sr. António (A): Infelizmente sim. Uma das grandes tristezas da guerra é a perda dos
familiares. Existe um monumento em Belém que foi construído com o propósito de
homenagear todos os combatentes da guerra do Ultramar. Entre eles, está o nome
do meu primo, também militar, Augusto Lopes.
Francisco: Porque é que os militares foram para a guerra?
A: Na altura do regime ditatorial, a
participação na guerra era obrigatória. Os que não queriam ir, às vezes
tentavam fugir. A PIDE conseguia controlar muito bem a população e, infelizmente,
muitos foram apanhados e presos.
David: Quantos militares se dirigiram a Lisboa para fazer o 25 de Abril?
A: A acção organizada
para derrubar o governo de Marcelo Caetano foi liderada pelo Movimento
das Forças Armadas, constituído na sua maioria por capitães que tinham participado na Guerra Colonial. Vieram militares de todo o país! Vendas Novas,
Santarém, Lisboa, Leiria e também nas terras ultramarinas. Todos estavam à espera
do sinal para avançar!
Garcia: Quem planeou a
guerra?
A: Nas colónias ultramarinas sempre
existiram movimentos
de oposição e resistência à presença de Portugal. Contudo, os primeiros confrontos começaram
Angola, em 1961, e a partir daí, estenderam-se aos restantes territórios.
David: A
PIDE lutou contra os militares quando se estava a dar o 25 de Abril?
A: É
uma injustiça dizer que a Revolução dos Cravos foi pacífica. A polícia política disparou sobre um grupo que se manifestava à porta das suas instalações,
matando quatro pessoas.
Garcia: O Sr. António
andou na Mocidade Portuguesa?
A: Em Angola tínhamos de
ir às aulas da Mocidade Portuguesa e só podíamos dar 5 faltas por ano. Como o
meu pai não gostava desta organização, pôs-me nos escuteiros!
Como militar e amigo de
muitos militares que participaram activamente na organização e mobilização do
25 de Abril, relembra o Sr. António, tive acesso a muitos episódios que nunca
foram contados. Um deles passou-se com um amigo meu que estava a cumprir o seu
serviço militar num Navio no rio Tejo. Nisto, recebeu ordens para disparar
contra o grupo de militares comandado por Salgueiro Maia, um dos capitães mais
importantes do Exército Português. Felizmente, o comandante do Navio não
autorizou e ordenou que se levantassem todos os canhões, permitindo que os
militares avançassem e realizassem os seus propósitos: pôr fim à ditadura.
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