março 17, 2014

Lembranças de uma prisão: Visita ao Forte de Peniche

Sexta-feira, 7 de Março de 2014:

Chegamos a Peniche por volta das 11h30. Nada como terminar a semana com uma visita de estudo a uma cidade cuja riqueza natural se confunde com a sua longa História de aventuras e peripécias que se perpetuaram durante longos séculos até aos nossos dias.

Entrada para a Fortaleza de Peniche, prisão política durante o Estado Novo
Na cidade destaca-se a Fortaleza de Peniche, edificada em 1557 por D. João III e concluída em 1645 no reinado de D.João IV, que tem visto o seu espaço ser aproveitado de forma distinta, consoante as adversidades históricas de cada época. Se em 1897 era utilizado como praça militar estratégica, no início do século seguinte servia de abrigo a refugiados provenientes da África do Sul e até mesmo como residência de prisioneiros alemães e austríacos durante a I Guerra Mundial. Anos mais tarde, com a implantação da ditadura do Estado Novo, adoptou um carácter de prisão política, enclausurando sobretudo presos políticos.

Após a Revolução de Abril de 1974, algumas famílias portuguesas que regressavam das colónias ultramarinas viram na Fortaleza o primeiro alojamento. Dez anos depois, passou a acolher o Museu Municipal, instituição fundamental para compreender a história não só do concelho mas sobretudo do nosso país.

Entramos no Museu e somos recebidos por Raquel, que nos apresentou de uma forma muito clara o roteiro e as colecções que iríamos visitar! 

O primeiro piso estava reservado para o Núcleo Histórico-Etnográfico, Pré-História, Arqueologia Subaquática, Pescas e Construção Naval e incluía a exposição da famosa e incomparável Renda de Bilros. No segundo piso, encontrámos o Núcleo do Arquitecto Paulino Montês, natural de Peniche, cuja obra demonstrou-se singular no seio cultural durante o Estado Novo.

Os últimos degraus da escada levaram-nos ao terceiro Núcleo: o da Resistência Antifascista. A colecção exposta no antigo Pavilhão “C” da prisão política testemunha a utilização da Fortaleza como prisão onde, submetidos a horrendas torturas, os reclusos eram mantidos durante meses e até mesmo anos.

Contudo, o Forte de Peniche, considerado uma das prisões mais controladas do Estado Novo, conta-nos também um episódio extraordinário e memorável de fuga! No dia 3 de Janeiro de 1960, o antigo Secretário-Geral do Partido Comunista Português Álvaro Cunhal juntamente com mais nove presos, ajudados pela compaixão de um guarda-republicano, conseguiram descer para o exterior com uma corda feita de lençóis!

Tentar fugir das cadeias fascistas era uma tarefa árdua e praticamente impossível, pois o total isolamento exterior e interior entre as salas (como a cela do Álvaro Cunhal) impedia que os prisioneiros pudessem organizar entre si qualquer tipo de acção. Muitos foram apanhados e regressam à prisão, outros enviados para o Campo de Concentração do Tarrafal, outros desapareceram.

Porém, o esforço unia-se à resistência e os nossos combatentes pela liberdade, ao conseguirem escapar-se das garras da PIDE, mostravam ao povo as fragilidades de uma ditadura que iria ver o seu fim no dia 25 de Abril de 1974!







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